Alçado a condição de governador do Estado pela onda Bolsonaro, o Coronel do Corpo de Bombeiros Carlos Moisés da Silva (PSL) acabou não compreendendo como funciona o poder, e já no final do ano ado sofreu um processo de impeachment que o afastou do comando da gestão estadual por várias semanas. O projeto era cassá-lo, assim como sua vice, Daniela Reinehr (S/P). Tudo caminhava relativamente bem na Assembleia Legislativa para que este objetivo fosse alcançado, até que um grupo de deputados saiu em defesa de Daniela. Objetivavam cassar Carlos Moisés, mas preservar sua vice.
A decisão de tais parlamentares foi capital para que o governador voltasse ao governo, pelo simples fato de ninguém saber quem de fato é Daniela Reinehr. Se Carlos Moisés já não inspirava confiança política, muito menos ela o fazia. Por conta disto, aos 45 do segundo tempo, um grande acordo selou o retorno do governador ao comando do governo catarinense, desde que ele asse a ouvir os deputados estaduais, o que, até aquele momento, simplesmente não fazia.
Ainda que tenha voltado a ser governador, o episódio do impeachment acabou torrando de vez a figura de Carlos Moisés no cenário político eleitoral. Isto que tal processo não tinha nada a ver com o caso dos respiradores. O que levou a seu afastamento foi a suposta indevida equiparação salarial de procuradores do Estado aos dos procuradores da Assembleia Legislativa. O impeachment dos respiradores é uma outra história, e será julgado somente nesta semana.
Tudo o que envolveu Carlos Moisés ao longo dos últimos dois anos, no entanto, o marcou como carta fora do baralho para 2022, a começar pelo seu conflito pessoal com seu próprio partido. Sem o comando da legenda, sem lastro político, e a mercê da Assembleia, o governador acabou se transformando numa presa fácil diante da próxima eleição estadual.
Acordos mantiveram Carlos Moisés no poder
Tentando se manter vivo até o final do ano que vem, o governador Carlos Moisés da Silva acabou fazendo uma série de acordo políticos, e, dentre eles, abriu seu governo escancaradamente para MDB e PP. Na mesma linha, deixou a porta encostada para várias outras legendas, que optaram por agir na surdina. Na prática, estas, a exemplo de MDB e PP, também estão se alimentando, mas preferem não aparecer na foto do banquete. Como resultado, o governador tem dormido bem mais tranquilo, só que o aludido sono dos justos já não existe mais. E não existe simplesmente porque o sono dos justos não pertence ao meio político, a não ser que o político seja tão alienado que acredite nisto.
Para se manter na política, governador precisa de partido forte
Diante de um mar aberto, onde tudo pode acontecer a qualquer momento, Carlos Moisés tem pouco a fazer. Uma de suas alternativas é se aproximar em definitivo de alguma sigla substancial, que lhe de a sustentação necessária para encarar 2022 com alguma perspectiva. Disputar a reeleição por uma pequena legenda seria uma opção, mas com ares de derrota eminente. Nas grandes ele não conseguirá espaço para um projeto desta natureza. Vale lembrar, no entanto, que Santa Catarina tem tradição em candidaturas de governadores, ou ex-governadores, ao Senado Federal. Esta poderia ser uma saída para lá de honrosa para Carlos Moisés diante do pleito estadual do ano que vem.
Carlos Moisés já foi bastante ligado a políticos do MDB
Em princípio, o partido com quem Carlos Moisés tem mais sintonia é o MDB. Ligado a deputada Ada de Luca (MDB), com quem trabalhou no governo, quando ela era Secretária de Estado da Justiça e Cidadania, Carlos Moisés tem a porta necessária para entrar na legenda. Seu futuro lá dentro, no entanto, seria uma incógnita, na medida em que as pretensões dos históricos da sigla são gigantescas. Nada impede, no entanto, que o governador tente construir um projeto de candidatura ao Senado pelo MDB, hipotecando, em troca, apoio de seu governo ao candidato que o partido lançar ao Governo do Estado ano que vem. Nada impede, também, que o governador de aos emedebistas a oportunidade de construir um sólido projeto com vistas a 2022.
Opção de ser torrado, ou glorificado, está nas mãos do governador
Daqui para frente a grande questão é saber até que ponto Carlos Moisés aprendeu com os dois processos de impeachment que sofreu, e também saber se ele leu ao menos algum livro de bolso sobre política. Se for astuto e reconhecer suas falhas diante da arte da política é muito provável que ele conclua sua gestão com êxito, e que construa o caminho necessário para se manter na casta do poder. Do contrário será pulverizado, como já o foram tantos outros. Rejeitado até mesmo por boa parte de sua própria sigla, as opções do governador não são muitas, mas podem ser alvissareiras caso ele resolva descer do andor. Se abrir seu governo e se aproximar pontualmente de uma legenda grande, Carlos Moisés continua no jogo. Do contrário, será apenas mais uma foto na galeria dos ex-governadores.